O Brasil é uma nação de frente para o Mar

Um novo olhar para os oceanos

Por Alexandre Freitas

12/05/2023

     O Brasil é uma nação de frente para o Mar. O Oceano Atlântico banha nossa extensa costa. O Mar sempre nos deu muito: comida, transporte, lazer e mais recentemente, petróleo. Porém nunca demos a devida atenção aos nossos recursos marítimos. Precisamos repensar nossa relação com o Mar.

       Os oceanos tornaram-se neste século uma fronteira de expansão da economia. Dos setores tradicionais, como a pesca e o transporte marítimo, até novas atividades ainda em desenvolvimento, como a biotecnologia e a geração de energia renovável, sendo todos objetos de políticas públicas que visam a geração de emprego e renda.

    Vários países passaram a reconhecer a importância das atividades relacionadas ao mar para seu desenvolvimento econômico. Na Europa a economia do mar corresponde a 2,2% do total de empregos, algo em torno de 4,26 milhões de empregos e 1,5 % do total do valor adicionado bruto, montante próximo a €240 milhões. Na Coréia do Sul, segundo o Korean Ocean Institute (2019), a economia do mar representou 2,5% do total do Valor Adicionado Bruto da economia em 2015.  Já na China, o produto oceânico bruto calculado pelo Ministério dos Recursos Naturais representou em 2019, 9% do PIB, num montante ao aproximado de US$1,26 trilhão. Por fim, nos Estados Unidos a economia do mar representou em 2018 um montante total de US$ 372 bilhões de dólares e empregou pouco mais de 2,2 milhões de pessoas. É tratado como prioridade no esforço norte-americano para a reindustrialização de sua economia.

      O Brasil possui um litoral de 7.491 km de extensão, o 16º maior do mundo. Seu território marítimo possui uma área de aproximadamente 3,6 milhões de quilômetros quadrados, podendo chegar a 5,7 milhões de quilômetros quadrados caso a Comissão de Limites de Plataforma Continental (ONU) aceite o pedido de extensão feito pelo país.  Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 281 municípios em 17 unidades da federação são banhados pelo Oceano Atlântico, cerca de 5% do total. De acordo com o último Censo Demográfico (IBGE, 2010), 26,58% da população brasileira vive no litoral, cerca de 57 milhões de pessoas. Dada sua importância, a Marinha do Brasil denominou o espaço marinho nacional de “Amazônia Azul”.

     No entanto, o Brasil pouco conhece o potencial econômico das águas que banham suas costas. À exceção da bem-sucedida indústria de Óleo e Gás offshore, o país não possui uma estratégia que lhe permita aproveitar o mar como um vetor de desenvolvimento econômico, social e ambiental. Não conseguimos ainda enxergar todas as possibilidades que as atividades econômicas marítimas podem oferecer em termos socioeconômicos.  

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Imagem de autoria do CEEMAR

 Em 2019 começamos a desenvolver pesquisas sobre a economia do mar brasileira. Em 2022, realizamos o primeiro cálculo do PIB do Mar do Brasil. Ele representou 4,6% do PIB nacional, um dos maiores do mundo. Trata-se de uma parcela significativa da economia do país, um montante equivalente a cerca R$ 420 bilhões.

PIB do Mar do Brasil

Imagem de autoria do CEEMAR

Em 2021, criamos o Centro de Estudos da Economia do Mar na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CEEMAR/UFRRJ). Este projeto pioneiro no país, realizado com financiamento da FAPERJ, procurará contribuir para que tenhamos uma nova relação com o oceano. Entendemos que era preciso sistematizar nossas pesquisas para que possamos elaborar uma estratégia de desenvolvimento econômico, social e ambiental, a partir do mar.

Desenvolvemos estudos em linhas de pesquisa concentradas:

– Mapeamento econômico dos recursos marinhos e seu uso sustentável para o desenvolvimento econômico nacional e regional.

– Estruturação de cultivos de alimentos azuis, em termos de cadeia produtiva, mercado, meio ambiente, além da logísticadistribuição e comercialização.

 – Estudo da geopolítica dos mares e a importância da elaboração de uma visão estratégica sobre o Atlântico Sul.

– Gestão Social das atividades marítimas sobre as comunidades costeiras tradicionais.

Trata-se do início de um longo trabalho da incorporação do Mar como objeto de estudo nas Ciências Sociais Aplicadas, e nas Humanidades. Vamos trabalhar para que o CEEMAR se torne cada vez mais interdisciplinar e que a cultura oceânica se dissemine em nosso país.